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Agência de Projetos: Da concepção à avaliação de benefícios
Agência de Projetosda concepção e viabilização à avaliação de resultados, benefícios e valor

frente a frente com Rosalina

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Do ontem ao amanhã. Do nosso passado histórico ao futuro desconhecido. Rosalina GP entrevista, esta semana, duas mulheres que se conectam pelo tempo. Duas profissionais em Gerenciamento de Projetos que trabalham com a concepção, construção e a gestão de museus. De Ouro Preto, convidamos a Engenheira Geóloga, Profa Maria Paula Delicio, Diretora do Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas da UFOP. Do Rio de Janeiro, comemorando a inauguração do Museu do Amanhã, convidamos a Arquiteta Larissa Graça, da Diretoria de Patrimônio e Cultura da Fundação Roberto Marinho, responsável pelos programas do Museu do Futebol em São Paulo e Museu da Imagem e do Som (MIS) no Rio de Janeiro. Que a força de nossa cultura e o conhecimento de nossa história se propaguem na construção de nosso futuro!   

 

 

Foto Larissa
 Larissa Torres Graça é Gerente de Projetos da Fundação Roberto Marinho e atua na área de Patrimônio e Cultura desde 2007, onde participa do planejamento e execução de projetos de Museus e Exposições. Participou do projeto do Museu do Futebol em São Paulo, da equipe do projeto do Museu do Amanhã e atualmente gerencia o projeto do Museu da Imagem e do Som no Rio de Janeiro. Larissa é paranaense, arquiteta formada pela Universidade Federal do Paraná, tendo realizado parte de sua formação universitária por meio de intercâmbio universitário na Université de Technologie de Compiègne (UTC) na França.

 

Maria Paula

Maria Paula é professora do Departamento de Geologia da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto/MG. Atualmente ocupa a direção do Museu de Ciência e Técnica da universidade. Tem Doutorado em Educação pela Universidade de Havana, Cuba. 

 

 

 

 

Apresentações feitas, vamos a isto.

 

Foto Larissa

Larissa, você trabalha para a Fundação Roberto Marinho (FRM) e é a Gerente do Projeto do novo MIS (Museu da Imagem e do Som) que está sendo implantado em Copacabana, no Rio de Janeiro. Conte-nos como é gerenciar um projeto da natureza, dimensão e visibilidade do MIS?

A implantação de um museu exige a coordenação de diversas disciplinas das mais diferentes áreas. Para a concepção do novo edifício do museu, partimos de um conceito arquitetônico, dotado de partidos artísticos e conceituais e temos que desdobrar todos esses requisitos nas mais diversas disciplinas técnicas que envolvem a concepção de um edifício. Isso por si só já é considerado um projeto complexo. Por outro lado, a implantação de um museu vai muito mais além. Para conceber as experiências museológicas, partimos sempre do que chamamos tripé conceitual: arquitetura, museografia e conteúdo. Portanto, além das disciplinas técnicas ligadas à engenharia e à arquitetura, quando desdobramos o projeto para suas dimensões mais subjetivas e curatoriais, descobrimos que a habilidade para a gestão do projeto muda radicalmente. Fazer a conexão entre artistas e técnicos nem sempre é uma tarefa fácil. Em um projeto de museu estamos falando de diversos colaboradores, como: museógrafos, museólogos, historiadores, artistas, educadores, comunicadores, restauradores, programadores culturais, além de todos os profissionais técnicos de arquitetura e engenharia. Além das experiências museológicas, na concepção do museu também temos outras disciplinas importantes que complementam o projeto. Tratamos com muito cuidado dessas facetas do projeto, que dão vida ao museu, como por exemplo o projeto educativo, o projeto de acessibilidade, a programação cultural. Além disso, neste projeto tivemos um grande cuidado com o tema da sustentabilidade: tanto ambiental (almejando a certificação), quanto econômica (estudo de viabilidade econômico-financeira). Como gerente deste projeto transitei na discussão de todos esses temas, o que é um grande desafio. Apesar de não conhecer tecnicamente a fundo cada uma dessas disciplinas, trabalhar na integração desse “todo” me trouxe um grande repertório profissional. Na prática, chamamos esse tipo de iniciativa de “projeto”, mas ao meu ver se configura como uma soma de vários projetos que acontecem em paralelo e convergem para um grande projeto final. Poderíamos até mesmo pensar que está mais próximo de um gerenciamento de programa do que de projetos, pela sua dimensão e complexidade.

 

Maria Paula

Paula, conte-nos sua trajetória profissional no universo dos museus.

Então, há 18 anos atrás surgiu a possibilidade de fazer um doutorado em Cuba na área de Educação.

Waw! Doutorado em Cuba?

Sim, Cuba! Diversas vezes estive em Havana para realizar as avaliações das disciplinas do doutorado. Nestas ocasiões pode conhecer a linda ilha, seu povo e sua cultura, além do incrível nível de ensino e aprendizado que trouxe de lá. Enfim, para conquistar a bolsa de estudos, decidi elaborar um projeto que contribuísse para dinamizar o Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (MCT/EM/UFOP). Fui aprovada e no contexto da proposta, muitos projetos foram concebidos e implementados. Essa vivência resultou num grande envolvimento meu com o Museu. Posteriormente, ajudei na montagem e reformulação de alguns setores temáticos e na estruturação de oficinas didáticas, as quais, atualmente, são oferecidas para professores e alunos do ensino fundamental e médio da rede pública. Em 2012 fui convidada, pelo então reitor da universidade, para dirigir o Museu, cargo que estou desempenhando até hoje. Sinto-me gratificada e entusiasmada com o trabalho e com a condução de todos os projetos que vislumbramos acontecer no futuro!

 

Foto Larissa

Qual foi o seu maior aprendizado na condução deste projeto?

Para dar conta de um universo tão extenso, o meu maior desafio foi me sentir confortável na diversidade. Transitar por universos tão diferentes, com repertórios tão diversos, fez com que eu passasse a enxergar cada um dos colaboradores como uma parte essencial do projeto. Acho que essa é a maior lição em gerenciar um projeto de tanta visibilidade, é entender que um projeto dessa magnitude só é possível se for feito por muitas mãos. Todas elas têm sua importância no processo. Saber lidar com as divergências pessoais é um constante desafio ao longo de todo o projeto. Os conflitos acabam surgindo, mas não podemos perder o foco de que as divergências pessoais não podem preponderar sobre o projeto. A dimensão humana, apesar de ser a mais complexa, é a que mais me encanta. No final, o que fica realmente de todo o processo, é a relação que foi construída com as pessoas. Certamente, em um próximo projeto, cruzaremos com muitos deles novamente.

 

Maria Paula

Agora vamos falar de um assunto interessante. Fiquei sabendo que a sua casa em Ouro Preto foi remodelada a partir de uma casa histórica e que ela aparece em quadros de pintores de rua de Paris. O que você tem a nos contar sobre esse projeto? 

Então, em 2001 tivemos a oportunidade de comprar uma casa em Ouro Preto. Minha ideia era poder morar no centro histórico e, depois de muita procura (as casas em Ouro Preto normalmente são passadas por gerações dentro das famílias, assim a disponibilidade de imóveis é pequena), encontrei uma casa muito deteriorada, mas que atendia aos nossos anseios. Neste tempo eu estava no meio do meu doutorado, assim, só depois pude me dedicar a recuperar o imóvel. É desnecessário dizer que a grana era curta, assim iniciei os trabalhos com uma equipe composta de 2 pedreiros e um ajudante. Montamos uma planilha de trabalho, atentando aos detalhes e muito cuidado, pois a frente da casa, que é de pau a pique e não poderia sofrer nenhuma alteração (exigência do IPHAN). De toda a forma, seu interior teria que ser reformulado integralmente, pois havia muitos e pequenos cômodos que fazia com que a casa fosse escura e pouco ventilada. Iniciamos pelo telhado, onde encontramos ninhos de gambá construídos com papéis, em alguns destes papéis encontrei documentos interessantes e históricos que remontam a 1889 (esta é outra história!!!!). Também fizemos uma coleção de cravos (pregos de ferro de secção quadrada) e de pentes de plásticos (o piso dos quartos era tão grande que durante muitos anos pentes caíram nestas frestas, e ali ficaram). Resguardei ainda algumas paredes originais através de vitrines de vidro que ficaram bastante harmônicas com a arquitetura aplicada. Dentro do projeto inicial teríamos 3 andares de casa, mas na vivência com a obra, surgiram mais espaços e a cada foi crescendo, crescendo…, atualmente, estamos com 9 andares (aqui contamos com 3 andares de quintal, onde estão plantadas couve, salsinha, cebolinha e feijão, milho e mandioca, o bastante para o consumo próprio e fazer algum agrado aos amigos). A adega … ocupará o 1º sótão!!!

Depois de dois anos e meio, finalmente, a casa, que um dia foi reconhecida por amigos em um quadro em Paris, foi concluída. A “mudança” chegou em uma quinta feira, véspera de carnaval – sinal de alegria! Na sexta, quatro amigos chegaram. Não havia cama nem pratos, apenas colchões, uma panela, canecos e garfos. Naquele carnaval comemos macarrão em caneca e tomamos banho gelado todos os dias. Apesar do costumeiro “conforto rústico”, a casa está sempre recebendo amigos, o que enche de alegria nossas vidas! Um dos projetos de meu portfólio!!!

 

Foto Larissa

Larissa, deve ser complexa a formação de um Gerente de Projetos nessa área. Conte-nos um pouco de sua trajetória profissional em Gerenciamento de Projetos?

Minha formação acadêmica é em Arquitetura e Urbanismo. Me formei na Universidade Federal do Paraná em 2004 e é difícil acreditar que até então não se estudava Gerenciamento de Projetos na faculdade. Contudo, sempre senti que eu tinha essa habilidade em coordenar e fazer as coisas acontecerem. Apesar de não ter tido uma formação nesta área, iniciei minha carreira em um programa trainee de uma multinacional. Foi para mim uma grande conquista, pois até onde eu sei, esse tipo de programa privilegia profissionais recém formados em administração, publicidade, engenharia e outras carreiras mais técnicas. Na Whirlpool fui a primeira arquiteta a ser admitida pelo programa trainee. A formação que recebi lá abriu meus horizontes para descobrir, de fato, a minha paixão pelo Gerenciamento de Projetos. Posteriormente, o trabalho na Fundação Roberto Marinho (FRM) só veio para reafirmar essa vocação. Por ser uma casa de projetos, desde o início atuei com os conceitos de gerenciamento de projetos. Ao longo dos últimos anos a FRM promoveu um grande treinamento para os funcionários e tive a oportunidade de fazer vários cursos e formação na área. A empresa investiu fortemente na profissionalização e treinamento dos funcionários e participei desse momento no qual foi implantado o PMO e a metodologia de GP da casa. Sou muito grata às oportunidades profissionais que apareceram para mim desde quando eu era recém-formada e pela sorte em ter encontrado os lugares certos, que valorizam e privilegiam o GP, para trabalhar durante esses anos todos.

 

“A vida só pode ser compreendida, olhando-se para trás; mas só pode ser vivida, olhando-se para frente.”

Soren Kierkegaard

 

 

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